Formada pela escola da vida, Dolores aos 72 anos regorgita palavras, xinga a todos que a visitam, detesta crianças e cheiros. Em seu quarto-escritório foi encontrada viva, se contorcendo e apertando as nádegas, rasgando a pele, puxando os cabelos.
Câncer na coluna, um tumor gigante, tomando conta da sétima vértebra, aquela que segundo ela achata a disposição.
Dolores martelou os pregos na cadeira, aprendeu a afinar pianos e hoje espera sentada, odiando, afinando e escrevendo sobre nada, sobre absolutamente nada em que viu toda a sua existente imersa.
Suporta gatos e pererecas.
Nunca foi a feira.
sábado, 12 de dezembro de 2009
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Suicídio.
Talvez, para dar função aos tais, poderia dizer que são como notas de passagem, não servem para porra nenhuma a não ser, causar uma sensação de recalque, ou melhor, de ilusão a quem escuta. Não existem.
Caminhar de mãos dadas com a morte é sim a única verdadeira capacidade em se ter uma vida de verdade.
Não me entenderão os "sábios", os felizes, os que adoram viver e que não sabem o valor real das coisas, além dos preços dos produtos vitais às suas famílias.
Morra, todo santo dia, morra. Na morte, somos capazes de encontrar algum resquício de sabedoria divina.
Talvez, para dar função aos tais, poderia dizer que são como notas de passagem, não servem para porra nenhuma a não ser, causar uma sensação de recalque, ou melhor, de ilusão a quem escuta. Não existem.
Caminhar de mãos dadas com a morte é sim a única verdadeira capacidade em se ter uma vida de verdade.
Não me entenderão os "sábios", os felizes, os que adoram viver e que não sabem o valor real das coisas, além dos preços dos produtos vitais às suas famílias.
Morra, todo santo dia, morra. Na morte, somos capazes de encontrar algum resquício de sabedoria divina.
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Eu sei onde tudo isso vai dar. Eu sei. Sempre soube da verdadeira vazão das coisas todas. Lugares comuns. Estou morta. Tão morta que de todas as palavras que digo, as que calo são as mais verdadeiras. As histórias que não vivi são as que me completam. A verdadeira falta é a única coisa existente aqui. O resto é.
Sou Deus
A verdadeira volta de Cristo
ao mundo,
dando risada
dos pregos cravados
em minhas imundas mãos.
Sou Deus
A verdadeira volta de Cristo
ao mundo,
dando risada
dos pregos cravados
em minhas imundas mãos.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
.1
insigni.
proponho nobres vantagens
ao cárcere primata.
elocubrações variantes.
Perntenço. Não.
Espasmos de dois sóis
um parado
o outro
em reticência. a
Balbuciar.
sempre.
O verde que vivo ao avesso
espelho imoral e perverso
uma puta inconsolável e trêmula.
daquelas
que dormem nos mais puros travesseiros.
proponho nobres vantagens
ao cárcere primata.
elocubrações variantes.
Perntenço. Não.
Espasmos de dois sóis
um parado
o outro
em reticência. a
Balbuciar.
sempre.
O verde que vivo ao avesso
espelho imoral e perverso
uma puta inconsolável e trêmula.
daquelas
que dormem nos mais puros travesseiros.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Pois bem, onde é que eu estava mesmo? Ah, já sei, detestando a tudo e a todos.
No Aeroporto.
A cor cinza da cidade de São Paulo, aquelas pessoas que se mexem muito, andam loucamente pra lá e pra cá, o trânsito completamente maluco, mas ei, se ele está parado tem um motivo, eu garanto. Uma hora e meia dentro do taxi, um Pai Nosso, uma Ave Maria e pronto, ninguém precisa ser tão descarada e ficar pedindo a Deus que dê tempo de pegar o vôo X para voltar à cidade natal. Não mesmo, nem a pau, nem fudendo.
Faltam exatamente 15 minutos para o seu vôo, você já fez o check-in, graças ao computador da casa da sua irmã.
Sai do taxi, paga com aquele dinheiro, que você queria muito ter comprado aquele disco fabuloso que jamais encontrará na merda da cidade que você nasceu, o motorista sério e sem vontade alguma de comentar sobre o clima da cidade cinza. Sim, as pessoas ficam deliciosamente cinzas naquele lugar.
Lá vamos nós. Portão 8. Sempre, Portão 8. Ah, antes a mulher da GOL, fez uma carinha de simpática quando na verdade olhava a bunda da mulher que acabara de passar com um filhinho nos braços. Realmente, um corpo daqueles e mãe? De se admirar ou invejar.
Portão 8. Repare bem, mas repare muito bem mesmo, não vai ser difícil. O pessoal mais horroroso, mal educado, de mau gosto, estão naquele portão. O portão 8, rumo a cidade de Goiânia, sem escala.
Sento na cadeira longe do povo, tento ler mais um pouco. Impossível. Uma mãe imbecil só sabe sacudir o moleque e ele lá, fingindo choro, não sai meia lágrima. Não me irrito com ele, eu choraria e cortaria os pulsos se tivesse uma mulher dessas, me sacudindo sem ao menos querer saber porque diabos eu estou assim, chorando. Uma espécie de asno dessas, não sabe se questionar, só sacode, sacode e sacode.
Vão monstros, entrem todos, eu espero acabar a porcaria da fila. Pego meus pertences e vou seguir o caminho da verdade. No avião é menino chorando (o mesmo), sacolas e bundas raspando em você, homem falando bem alto, contando alguma coisa completamente babaca e dispensável para todos a bordo. Ao meu lado, uma chata de óculos de massa e all-star lendo alguma chatice, do outro uma senhora, até fofinha. Lá vamos nós.
A boba vai, faz o mesmo gesto caso o avião caia e eu, fico pensando se aquilo acontecesse. Sinto até mesmo uma alegria leve, seria engraçado o povo se desesperando, gritando, chorando, se abraçando. Eu não abraçaria a velha nem a chata, também não fecharia os olhos, daria risada, de nervoso que seja mas, daria. Morrer junto com um bando de gente gritando, isso é péssimo. Tira toda a honra e glória de morrer sozinha, tragicamente. Assim é péssimo, você vira a vítima do vôo tal. Sem graça demais.
Bem, tento ler e é impossível, o barulho do avião embala qualquer um e ao menino do choro agonizante também, graças ao bom Deus, não sei qual e nem onde está e nem acredito Nele.
Bem vindos a Goiânia, a temperatura é de 40°, sem previsão de chuva e sem previsão de nada, nada novo. Absolutamente nada. Você deveria ter ficado em São Paulo, dado um jeito qualquer de adquirir uma profissão, um sub emprego que fosse. Estúpida!
Saia, vá pelo caminho ordenado, dentro das faixas amarelas.
Corra muito agora, pegue o carrinho e Opa! Povo burro, todo mundo esperou na esteira errada.
Atropelamento de carrinho de aeroporto. Queria muito saber quando é que alguém vai inventar os carrinhos com vida, povo desgraçado, colocam as porcarias dos carrinhos na frente da esteira feia e suja pela qual vão vir as malas, como se eles criassem braços e sem o menor esforço e drama, pegassem a mala para nós. Lá se vai a minha mala e lá se vai a minha sacolinha. Desgraçados, tirem a merda do carrinho da frente da esteira, não percebem, não percebem o quanto eles atrapalham a minha vida e o funcionamento das coisas.
Peguem suas compras, seus vermes. Quando saírem e me derem um espaço eu pego a minha mala que nem lembro mais direito qual é.
Na saída, as famílias impedem a passagem que é o único lugar de passagem. Se abraçam. Sigo xingando mais uns vinte palavrões e vou até o taxi, antes tive que dar a vez para a retardada de salto alto que foi correndo, achando que eu apostaria corrida com ela.
Vá sua besta, tem outro atrás.
Entro. Setor Aeroporto. Aeroporto, aeroporto, aeroporto. Moço, vá pela Independência por favor e preste muita atenção, se você for esperto, dá para pegar a sequência de sinaleiros abertos! Pelo amor de Deus, que não existe, que não sei onde está, que não acredito.
Dolores Carmina.
No Aeroporto.
A cor cinza da cidade de São Paulo, aquelas pessoas que se mexem muito, andam loucamente pra lá e pra cá, o trânsito completamente maluco, mas ei, se ele está parado tem um motivo, eu garanto. Uma hora e meia dentro do taxi, um Pai Nosso, uma Ave Maria e pronto, ninguém precisa ser tão descarada e ficar pedindo a Deus que dê tempo de pegar o vôo X para voltar à cidade natal. Não mesmo, nem a pau, nem fudendo.
Faltam exatamente 15 minutos para o seu vôo, você já fez o check-in, graças ao computador da casa da sua irmã.
Sai do taxi, paga com aquele dinheiro, que você queria muito ter comprado aquele disco fabuloso que jamais encontrará na merda da cidade que você nasceu, o motorista sério e sem vontade alguma de comentar sobre o clima da cidade cinza. Sim, as pessoas ficam deliciosamente cinzas naquele lugar.
Lá vamos nós. Portão 8. Sempre, Portão 8. Ah, antes a mulher da GOL, fez uma carinha de simpática quando na verdade olhava a bunda da mulher que acabara de passar com um filhinho nos braços. Realmente, um corpo daqueles e mãe? De se admirar ou invejar.
Portão 8. Repare bem, mas repare muito bem mesmo, não vai ser difícil. O pessoal mais horroroso, mal educado, de mau gosto, estão naquele portão. O portão 8, rumo a cidade de Goiânia, sem escala.
Sento na cadeira longe do povo, tento ler mais um pouco. Impossível. Uma mãe imbecil só sabe sacudir o moleque e ele lá, fingindo choro, não sai meia lágrima. Não me irrito com ele, eu choraria e cortaria os pulsos se tivesse uma mulher dessas, me sacudindo sem ao menos querer saber porque diabos eu estou assim, chorando. Uma espécie de asno dessas, não sabe se questionar, só sacode, sacode e sacode.
Vão monstros, entrem todos, eu espero acabar a porcaria da fila. Pego meus pertences e vou seguir o caminho da verdade. No avião é menino chorando (o mesmo), sacolas e bundas raspando em você, homem falando bem alto, contando alguma coisa completamente babaca e dispensável para todos a bordo. Ao meu lado, uma chata de óculos de massa e all-star lendo alguma chatice, do outro uma senhora, até fofinha. Lá vamos nós.
A boba vai, faz o mesmo gesto caso o avião caia e eu, fico pensando se aquilo acontecesse. Sinto até mesmo uma alegria leve, seria engraçado o povo se desesperando, gritando, chorando, se abraçando. Eu não abraçaria a velha nem a chata, também não fecharia os olhos, daria risada, de nervoso que seja mas, daria. Morrer junto com um bando de gente gritando, isso é péssimo. Tira toda a honra e glória de morrer sozinha, tragicamente. Assim é péssimo, você vira a vítima do vôo tal. Sem graça demais.
Bem, tento ler e é impossível, o barulho do avião embala qualquer um e ao menino do choro agonizante também, graças ao bom Deus, não sei qual e nem onde está e nem acredito Nele.
Bem vindos a Goiânia, a temperatura é de 40°, sem previsão de chuva e sem previsão de nada, nada novo. Absolutamente nada. Você deveria ter ficado em São Paulo, dado um jeito qualquer de adquirir uma profissão, um sub emprego que fosse. Estúpida!
Saia, vá pelo caminho ordenado, dentro das faixas amarelas.
Corra muito agora, pegue o carrinho e Opa! Povo burro, todo mundo esperou na esteira errada.
Atropelamento de carrinho de aeroporto. Queria muito saber quando é que alguém vai inventar os carrinhos com vida, povo desgraçado, colocam as porcarias dos carrinhos na frente da esteira feia e suja pela qual vão vir as malas, como se eles criassem braços e sem o menor esforço e drama, pegassem a mala para nós. Lá se vai a minha mala e lá se vai a minha sacolinha. Desgraçados, tirem a merda do carrinho da frente da esteira, não percebem, não percebem o quanto eles atrapalham a minha vida e o funcionamento das coisas.
Peguem suas compras, seus vermes. Quando saírem e me derem um espaço eu pego a minha mala que nem lembro mais direito qual é.
Na saída, as famílias impedem a passagem que é o único lugar de passagem. Se abraçam. Sigo xingando mais uns vinte palavrões e vou até o taxi, antes tive que dar a vez para a retardada de salto alto que foi correndo, achando que eu apostaria corrida com ela.
Vá sua besta, tem outro atrás.
Entro. Setor Aeroporto. Aeroporto, aeroporto, aeroporto. Moço, vá pela Independência por favor e preste muita atenção, se você for esperto, dá para pegar a sequência de sinaleiros abertos! Pelo amor de Deus, que não existe, que não sei onde está, que não acredito.
Dolores Carmina.
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