quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

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O sangue, tão molhado sangue,
encoberto por rasuras nervosas,
esboçando um sorriso perpétuo,
aguardando o exato momento em ser
mais do que uma cor que escorre.
Sangue que me afoga,
maltrata e exalta todos os sentidos
que nunca encontrei na felicidade.
Sangue que assombra,
que mastiga e corrói,
desnutre e impermeia
a chegada besta da calmaria insana
desses rios loucos, sem beiras.
Sangue torto, amaldiçoado,
do pai, do filho e do perfeito.
Sangue eterno e cortante.
Do meu fantásico te reveso,
sem metáforas, sem cortejos.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Dolores Carmina

Formada pela escola da vida, Dolores aos 72 anos regorgita palavras, xinga a todos que a visitam, detesta crianças e cheiros. Em seu quarto-escritório foi encontrada viva, se contorcendo e apertando as nádegas, rasgando a pele, puxando os cabelos.
Câncer na coluna, um tumor gigante, tomando conta da sétima vértebra, aquela que segundo ela achata a disposição.
Dolores martelou os pregos na cadeira, aprendeu a afinar pianos e hoje espera sentada, odiando, afinando e escrevendo sobre nada, sobre absolutamente nada em que viu toda a sua existente imersa.
Suporta gatos e pererecas.
Nunca foi a feira.
Não escrevo sobre mim, não tenho saco para ouvir todos comentários. Não suporto nenhum ser vivo que fale. Não suporto sua vida, suas verdades, sua neurose. Não suporto a sua vida e o que você vai fazer com ela.
Para mim, todos os significantes estão mortos ou por vir.
Agonizo.

Dolores.

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Suicídio.
Talvez, para dar função aos tais, poderia dizer que são como notas de passagem, não servem para porra nenhuma a não ser, causar uma sensação de recalque, ou melhor, de ilusão a quem escuta. Não existem.
Caminhar de mãos dadas com a morte é sim a única verdadeira capacidade em se ter uma vida de verdade.
Não me entenderão os "sábios", os felizes, os que adoram viver e que não sabem o valor real das coisas, além dos preços dos produtos vitais às suas famílias.
Morra, todo santo dia, morra. Na morte, somos capazes de encontrar algum resquício de sabedoria divina.

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Eu sei onde tudo isso vai dar. Eu sei. Sempre soube da verdadeira vazão das coisas todas. Lugares comuns. Estou morta. Tão morta que de todas as palavras que digo, as que calo são as mais verdadeiras. As histórias que não vivi são as que me completam. A verdadeira falta é a única coisa existente aqui. O resto é.

Sou Deus
A verdadeira volta de Cristo
ao mundo,
dando risada
dos pregos cravados
em minhas imundas mãos.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

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insigni.
proponho nobres vantagens
ao cárcere primata.
elocubrações variantes.

Perntenço. Não.
Espasmos de dois sóis
um parado
o outro
em reticência. a
Balbuciar.
sempre.

O verde que vivo ao avesso
espelho imoral e perverso
uma puta inconsolável e trêmula.
daquelas
que dormem nos mais puros travesseiros.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Algo sobre o Amor

.Se me entenderem terei que morrer, novamente.